A história da guerra no subsolo da cidade

Bunker
que foi usado como esconderijo durante a 2ª Guerra Mundial e utilizado
como parte do salão da pizzaria Babbo Giovanni. Foto: JB NETO / AE
FABIANO NUNES
Mesmo sem uma ameaça iminente de bombardeio, São Paulo ainda preserva alguns abrigos antiaéreos em seu subsolo. Todos foram desativados. Mas durante a reforma dos prédios houve essa redescoberta histórica e hoje esses espaços são ocupados para outras funções. Há várias teorias de como esses abrigos, ou bunkers no termo em inglês, foram construídos.
Uma das teorias defendidas por historiadores é que muitos deles foram construídos durante a 2.ª Guerra. No fim de 1943, a primeira missão brasileira chegou à Itália. Mais de 25 mil brasileiros foram para a batalha. “O governo na época distribuiu manuais de defesa antiaérea. A população era informada sobre como deveria agir no caso de um ataque”, explicou o professor de história da PUC César Campiani Maximiano.
O Decreto 12.628, de julho de 1943, determinava que prédios construídos a partir de agosto daquele ano tivessem abrigos antibombas. A paranoia tomou conta da cidade. E muitos seguiram o que mandava a lei. Na Rua Alfredo Pujol, onde hoje funciona uma das franquias da Pizzaria Babbo Giovanni, em Santana, na zona norte, o abrigo antiaéreo foi descoberto durante uma reforma, em 2004, e transformado em adega.
“Um dos engenheiros descobriu uma parede falsa e em seguida chegamos até esta parte do abrigo”, explicou o comerciante Fernando Rossetto, dono da pizzaria. O prédio foi construído em frente a uma unidade do Exército. “Talvez por isso o proprietário tenha ficado mais encanado e tenha também encomendado este bunker”, conta Rossetto.
Trauma
Mesmo depois o fim da 2.ª Guerra, os abrigos continuaram a ser construídos. É o caso do prédio onde hoje funciona o Hotel Bourbon, ao lado da Praça da República, no centro da capital. O edifício foi erguido na década de 1950 pela condessa italiana Leonor de Camilis Spezzacalena, que veio para o Brasil após o fim do conflito.
De acordo com o hotel, durante a construção do prédio, a condessa exigiu que fosse projetado um abrigo antiaéreo, pois na época ela ficou traumatizada com os ataques sofridos pelo seu país. Atualmente, no local funciona uma academia de ginástica e uma sauna para os hóspedes. Na década de 1990, o local funcionou como um piano bar.
Em sua história, o Estado de São Paulo sofreu bombardeios em dois períodos: na Revolta Paulista de 1924 e na Revolução Constitucionalista de 1932. Em 1924 a cidade foi bombardeada por aviões do governo federal, que atingiu vários pontos da capital, como a Mooca, o Brás e Perdizes. Mas nem todos os registros são confirmados.
“Durante a 2.ª Guerra havia também uma proposta de construção de abrigos públicos, mas isso nunca foi comprovado. Outros prédios também dizem que têm um abrigo antibomba, mas nunca encontrei um registro que mostre que esses prédios foram projetados como abrigos”, disse o historiador Roney Cytrynowicz, autor do livro Guerra Sem Guerra.
“Houve exercícios para simular blecaute durante essa época, a Cruz Vermelha fez uma comissão de defesa passiva civil antiaérea para demonstrar como as pessoas deveriam se comportar no caso de um ataque. Mas tudo isso era mais pelo clima do conflito do que por um perigo real”, contou. Cerca de 2 mil soldados brasileiros morreram na Europa durante o conflito.
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Fonte: http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/a-historia-da-guerra-no-subsolo-da-cidade/
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